domingo, 27 de fevereiro de 2011

PARA QUE SE ENTENDA QUE O AMOR E OS AMANTES TEM SEU TEMPO, QUE ESSE TEMPO NÃO PERTENCE À PAIXÃO, PARA QUE O AMOR SEJA ETERNO ENQUANTO DURE.

Após um inverno criativo que desafiou estações e cidades pelas quais passei, me ocorreu, de uma canção e de um documentário, tocar esse tema desgastado, o amor.

Não tanto pelo que sentimos ou deixamos de sentir pelas pessoas mas pela perda de seu apelo semântico, depois de cantado e afogado em pagodes, sambas enredos e, obviamente em filmes, peças de teatro e desgraçadamente em novelas.

A imagem ao lado é a de duas pessoas, encontradas numa escavação, seus corpos entrelaçados, e de pronto concluiu-se que eram amantes. Conclusão essa sem qualquer fundamento senão que nosso desejo de eternizar esse sentimento, até nos restos mortais de quem nunca chegamos a conhecer.

A descoberta feita na Itália e datada de 5.000 a 6.000 anos, logo ganhou a alcunha de "O Abraço Eterno", e pronto é um casal e isso era amor.

É certo, ao que parece que são dois adultos, do sexo masculino e feminino. Que parecem ter idade aproximada, mas será que eram mesmo amantes.

O hábito, recentemente retomado, de beijar e abraçar amigos e amigas, de demonstrações de afeto entre aparentados, parece nos fazer duvidar dessa interpretação apressada do achado.

A pressa, inimiga do amor, juntou essas duas pessoas com seu abraço eternizado no tempo.

A mesma pressa que nos faz confundir, antipatia com ódio, transforma a menor incompatibilidade em preconceito, reduz o amor à paixão, nesse último caso com consequências nefastas.

Numa comparação pífia, diria que os consumidores de amores apressados são como os bebedores de cerveja, e os de amores consolidados como os apreciadores de um bom vinho ou destilado.

Já observaram com que pressa bebem os amantes da "loura" entornam em goles fartos suas tulipas de chopp ou copos e latinhas de cerveja, tudo para que ela não esfrie e perca o "sabor" ? E como fazem acompanhar essa bebida com toda sorte de coisas pesadas e indigestas ? Suas mãos trêmulas, o "efeito" entorpecente quase que imediato, as risadas fartas e o indefectível inchaço que ocorre mesmo se a marca é a tal Skol 360º ?

Ao contrário os amantes, verbi gratia, do vinho, se dedicam a conhecê-los em sua intimidade, as sutilezas de seu bouquet, os tons, sua textura e coloração. Isso "dá trabalho" me dirão, não tenho tempo, outros, e ainda, é modismo da classe média em sua eterna gangorra de ascenção e descenso.. Pode ser, mas não invalida a metáfora. Não raro, fazem acompanhar a bebida com aperitivos ou pratos cuidadosamente escolhidos, ao contrário dos primeiros. Queijos, frutas e carnes harmonizadas com carinho e não torresmo.

Assim quem se apaixona com pressa, já que a paixão é fase obrigatória do amor, mas não sobrevive a esse, senão que de forma mais sutil, quase diáfana.

Então melhor é amar aos pouquinhos e todo dia, assim os pais, os irmãos, os amigos, os colegas de trabalho e os estranhos, esses também chamados de "próximos" pelo Mestre.

Amor é engenharia e depois arquitetura. É urbanismo, mas também paisagismo. Nada mais equivocado do que uma casa que não observa os ditames dessas guildas, e as cidades que perderam a identidade, que não abrigam mais frestas, que não possuem espaços privados, nos quais as áreas públicas se tornaram via obrigatória do olhar.

Hoje nos apaixonamos por corpos, e nossa pulsão é por tanatos. Deixamos de apreciar um "bom papo", o tal "interior" (dizem até que quem se interessa pela beleza interior é legista).

Nada contra o belo, mas, às vezes ele pode ser encontrado num pequeno detalhe, impossível de ser divisado se estamos entorpecidos em festas rave ou cegos em ambientes escuros ou esfumaçados. Ai o amor não se encontra, senão que se for daqueles amores que, por razões cósmicas, não poderiam deixar de ocorrer, para lição ou para que se realizassem grandes desígnios.

O processo de desamor é igualmente lento, mas de forma compulsória. São os mal tratos, o desprezo calculado e cotidiano pelo outro, a desatenção, a audição e visão seletiva, a falta de tempo, a repetição desprovida de sentido de palavras e gestos.

Assim matavam os Médicis, que se faziam cercar de envenenadores e perfumistas.

Sim é possível combinar de modo a formar filigranas, os aromas da vida e os da morte.

Os efeitos, por óbvio, não representam progresso para a alma, nem dos algozes, menos ainda de suas vítimas.

Por fim, sem finalizar, com propósito essa desreflexão, proponho a leitura de uma obra pouco difundida no Brasil, ou ironicamente difundida de forma muito açodada, "Elogio de la lentitud", de Carl Honoré, que li em espanhol, durante férias em Buenos Aires, cujas virtudes terapêuticas muitos haverão de admirar, como eu.

Existe uma pequena comunidade de pessoas que "curtiram" a publicação no facebook, icone da comunicação imediata, divido o link: http://www.facebook.com/pages/Elogio-De-La-Lentitud-Carl-Honor%C3%A9/106225192734030.

Desconstruam.




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