sábado, 21 de junho de 2014

VAIAS - COMO USAR

As vaias impostas à Presidente Dilma - apesar do Decreto Presidencial impondo o uso do termo "Presidenta" em documentos oficiais, me recurso a usar isso em documentos de minha pertença, porque ele somente ressalta o lado endurecido de nossa mandatária -, foram tema recorrente nas redes sociais, e na imprensa.

A despeito de qual seja a opinião predominante sobre esse melancólico final de reinado do PT, achei de mal gosto, principalmente porque veio de gente de classe média, num estádio construído no meio da miséria, em uma das cidades mais afluentes do país, São Paulo. Contradições se sobrepõem, salvo melhor juízo.
A deselegância não cai a ninguém, e como já dizia minha mãe, é mais uma questão de atitude do que da classe social a que você pertence, das roupas e jóias que ostenta, da mulher/marido que você possui (?!) ou do carro que "lhe" dirige.
Os fatos em SP não pararam por aí.
Dias depois, assistimos, com preocupação mais um protesto violento na mesma SP, uma cidade conhecida pela cordialidade. Concessionárias de carro de luxo invadida por uma horda disforme e sem ideologia senão a do ódio social.
Ao longo dos anos, SP fez o que outros grandes centros no Brasil, talvez à exceção de Brasília, não conseguiram fazer: varreu os seus pobres para debaixo do tapete, mais precisamente para sua orla. 
Se quiser testar essa perspectiva, aceite o desafio de tomar um trem do Metrô saindo da Sé até, digamos, Itaquera, onde fica o tal estádio da Copa. Se conseguir, fique perto de uma janela e observe a paisagem se deteriorar à medida que o trem avança, e se surpreenda ao ver que a quantidade de gente no trem somente diminui depois da estação Tatuapé. Observe também que um lado dos trilhos é mais urbanizado e abriga pequenas ilhas de prosperidade como o bairro de Ana Rosa, no Tatuapé, e também que cada um dos lados dos trilhos separa realidades diferentes.
Quem está acostumado a viver e conviver com comunidades debruçadas sobre áreas nobres, como aqui no Rio, onde as favelas são onipresentes nos bairros da Zona Sul, vai estranhar a ausência de comunidades carentes na área central de São Paulo (não conto com os moradores de rua ou os usuários de crack) ou em seus bairros mais nobres, à exceção talvez do Morumbi, que abriga a enorme favela de Paraisópolis, formada a partir dos operários que trabalharam na construção de seus prédios de luxo, e com restos de entulho.
São Paulo assistiu, mas uma vez assustada, como dizia, a invasão de concessionárias de luxo e estabelecimentos comerciais frequentados pela classe média alta. As cenas falam por si. Os manifestantes não atacaram apenas as vidraças. Investiram contra os carros importados com uma fúria inédita.
Há quatro anos atrás, quando morava em São Paulo, um professor meu da FGV já previa uma ruptura no tecido social brasileiro, e apontava estatísticas do Rio, temendo que o mesmo fenômeno se repetisse em SP.
Não professor, as favelas do Rio surgiram de forma diferente, ainda que seu desenvolvimento posterior tenha trilhado a mesma rota que as comunidades menos favorecidas de SP. O crime aqui se organizou com os restos da guerrilha armada, ganhou organicidade, que só recentemente se viu em SP. 
Em SP, o Estado se organizou, a economia cresceu, mas a cidade esqueceu de pisar o pé no freio. Continuou atraindo investimento, mas também miseráveis e gente de classe média desiludida. Esqueceu de primeiro incorporar os paulistanos às suas classes médias.
O que se viu nas manifestações não foi mais a indignação com o preço das passagens ou com o desatino da Copa. Foi puro ódio social.
Os manifestantes vão para a rua destruir bens que não podem consumir, circular, na proteção da turba, em lugares nos quais não são bem vindos, e nos quais não podem tomar sequer um sorvete sem atrair olhares desconfiados.
A escritora Lya Luft em recente edição da Veja, escreveu um excelente, mas reticente, artigo sobre a questão da (falta) de autoridade no Brasil. Apontava com preocupação o caminho que tudo isso estava tomando. Teme o retorno de um regime de exceção para fazer frente a tanto desatino. Afinal, nossa democracia é recente, foi inaugurada em 1988, para um pais com meio milênio de existência, e 9 Constituições, isso sem contar com a malfadada Constituição luso-brasileira de 1822. Ou seja entre nossa "independência" e a Constituição de 1988, pouco mais de um século, tivemos 9 constituições, umas mais e outras menos legítimas.
Não acredito que os militares queiram expor suas instituições, hoje recuperadas e em vias de reaparelhamento técnico, a uma nova aventura política. Os militares hoje são outros, suas lideranças estão mais empenhadas em alinhar nosso pais aos membros da OTAN e conquistar o protagonismo no Cone Sul.
Mas ao que interessa, que sinais nos mandam os xingamentos da classe média no Itaquerão e as manifestações violentas dos sem-ingresso, sem educação, sem transporte, sem saúde, sem referência religiosa e agora sem classe social (o PT varreu por decreto os miseráveis para debaixo do tapete).
Com a palavra os que possuem instrumentos científicos para se debruçar sobre o fato.
Em direito arriscaria dizer que estamos diante de um eminente conflito entre a Constituição Social - o arranjo de forças na sociedade -, e a Constituição Formal, as normas que assumem forma constitutional. Se somarmos a isso os recentes fatos relativos ao STF, guardião, em termos, da Constituição, a situação fica mesmo inquietante.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Reinações de Phoebe Ideaphix Allen


Reinações da Phoebe (continuação): Hoje foi dia de veterinário, pet shop, comprar caixinha pra viajar. Phoebe precisa de um atestado médico e para isso ela tem que ver a Dra. Silvia, uma santa. Sua caixinha ficou pequena, ela esta com mais de metro de comprimento e seu peso na casa dos 8 kg, apesar do regime. Ela tem que dar uma volta de 360 graus na caixa ou então não viaja. O pai de Phoebe agora tem uma mini van, com amplo espaço para reinações, nos três bancos da trás e no espaço entre os bancos da frente, e, em condições normais de temperatura e pressão (lembram?, CNTP?), esse espaço seria suficiente para um daschund, animalzinho de pernas curtas, por isso, baixinho e de corpo comprido (nariz enorme). Mas não para Phoebe... Se o carro é grande é todo dela e não há coleira presa em cinto de "seguridad" que a "segure". Gemidos, grunhidos, chorinho, pequenos uivos e latidos de irritação. O local, Esplanada dos Ministérios, horário de pica, digo, de pico. Phoebe quer chegar em casa, já andou demais de carro, ar condicionado, prefere o de casa. Phoebe se solta da coleira, inicialmente passeia no banco de trás sob protestos do pai, que tenta dirigir e mantê-la na parte de trás da viatura. Phoebe se esgueira e domina o banco da frente, com o carro quase parando o trânsito na Rodoviária de Brasília. Uma mão no volante, outro na Phoebe, não há lugar para parar. Phoebe resolve investigar se o símbolo no tapete do carona é comestível. O motorista, eu, respiro aliviado, afinal passávamos em frente à CNBB, nunca se sabe... O alívio durou pouco já na altura do MRE, a criatura resolve explorar o que existe em baixo dos pedais de freio e acelerador. Pânico... tentativas de tirar a criatura com uma mão fracassam e o carro chacoalha para lá e para cá provocando a ira justa dos demais motoristas. Uma ideia surge, e se eu estalar os dedos junto ao banco do carona será que ela muda de lado, deu certo. Foi o tempo de pegar pela nuca e carregar a criatura para cima do banco do carona. Em frente ao Palácio do Planalto, talvez com medo da mão do Executivo, e do PMDB, resolveu ficar quieta nos próximos km que a levaria de volta pra casa. Bem, este missivista, já teve um cachorro que sentava no próprio cocô, outro que pulou do playground do prédio e caiu em cima de uma árvore, sendo talvez o único caso que a pacata polícia baiana teve de resgate de cachorro em árvore, e agora Dona Phoebe, senhora de tudo. Depois me perguntam porque não sou normal.

sábado, 20 de agosto de 2011

Cia. das Desreflexões.: APAGANDO RASTROS E MARCAS - NOVA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Cia. das Desreflexões.: APAGANDO RASTROS E MARCAS - NOVA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

APAGANDO RASTROS E MARCAS - NOVA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL


Não estou certo de que entendi realmente essa coisa de blog, foto blog, enfim a logística toda desse enorme fluxo de informação e exposição que se coloca na web.

Com isso quero dizer que não sei se é uma espécie de espaço político, ou humorístico tipo stand-up Comedy, a la PC Siqueira, que é aliás possui um vídeo blog super interessante de se assistir no qual veicula o melhor do humor paulistano, meio auto complacente e desleixado, especialmente com o visual, as vezes chato, mas definitivamente um fenômeno da antropologia dos bandeirantes. Ganhou cadeira e horário nobre na MTV, ou EMETEVÊ, como me disseram alguns paulistanos seria mais politicamente correto de pronunciar.

Ou se é um fenômeno novo ligado a uma necessidade contemporânea de auto promoção, de mero veículo ideológico, jornalístico ou publicitário.

Se vocês notarem minha página está agora mesmo piscando com centenas de informações desconexas desde como adquirir o abdômen perfeito versão homens (meio gay, porém útil), até notícias do ativismo social de uma ONG no Rio e de uma ou duas "pessoas-físicas-ONG", ambas do sul, e surpreendentemente da mesma pequena cidade de Joaçaba, de menção tão recorrente aqui, por me haver marcado de forma tão profunda.

Propositadamente esse post vai em preto e branco, porque é diferenciado mesmo, quer pelo conteúdo quer pela reflexão inicial, que prometo, acabou aqui, com o meu conceito de blog, "é uma atividade eminentemente literária num veículo que se propõe o oposto", não importa se a aposta é refletir sobre baratas, a orbe ou o budismo.

Isso dito, e já me coloco na trilha do post.

Gostaria de propor ao meu minguado, mas seleto, grupo de leitores uma questão, amor que é amor de verdade tem fim mesmo ou é, como propõe o Vinicius de modo muito cômodo para si e para os de sua geração, já adiantando minha visão, "eterno enquanto dura" ? Se a questão se circunscreve ao "dura", que "duração" é essa ? E quando não mais "dura", ou quando alcança o seu oposto, seja ele qual for, qual a melhor forma de dizer adeus, adieu, ciao, sayonara, adio (em ladino, língua dos meus ancestrais), adiós, ou, de forma extremamente em significante, em bom latim: vale, que nos reporta ao "valeu" nosso de cada dia.

O hebraico me saiu com o enigmático lehitraOT, que seria mais um desejo de que a pessoa que está indo volte bem e rápido, por isso não se aplica ao caso, por razões mais que óbvias.

Ainda ontem assistia um programa de televisão pouco antes de dormir, no qual se "refletia" qual o grau de envolvimento necessário à consumação da tal conjunção carnal, segundo duas opiniões surpreendentemente opostas, a do comediante Pedro Cardoso, homem e assumidamente sacana, e a não menos divertida Ivete Sangalo, cantora, porém mulher.

Em resumo um defendia que será preciso sentido, ao menos algum e por algum tempo, por menor que seja, e ainda certo grau de ternura para que a tal "concretude" se manifestasse - o Pedro (!)-, e a outra, que o tal comparecimento masculino se daria de qualquer forma, vindo o envolvimento emocional meio que no curso da situação, posição defendida pela Ivete, de forma muito sincera aliás, e corajosa, também ao admitir, para desgraça de grande parte da população masculina, que tamanho é sim documento, para ambos os sexos.

O desenlace afetivo, segundo meu analista, está no topo das situações consideradas como de maior potencial de infundir episódios de depressão, ansiedade e outras manifestações psíquicas, para as quais hoje existem siglas, ao invés de nomes, como TAG, TAB, TOC etc.

As outras são, mudança de endereço, com perda dos laços relacionais e até da paisagem, mudanças de trabalho, perda de um parente ou pessoa querida para a morte, e por ai vai.

Então, ao menos a psiquiatria concorda que existe uma perspectiva, mais ou menos baseada na realidade, de que as relações possam durar menos que uma noite no barzinho, boate ou motel. Ou seja, parcela considerável da sociedade, mesmo antes do vitorianismo, e da ascenção do romantismo, parece acreditar que se é amor dura para além dos cotados dois três anos.

Aliás, quem não tem na família exemplo de pessoas que se amaram mesmo, até que a morte os separou ?

Mas hoje a resposta a essa minha primeira indagação, vem em ondas ecoando um retumbante "não". As relações devem durar enquanto funcionais ou convenientes ao menos para uma das partes.

Ficamos com a maioria então ?

Como diríamos nós juristas, isto posto, na forma de um certo consenso, como se deve dar o desenlace ? Um simples tchauzinho, beijinhos ao vento, toma suas coisas que eu fico com as minhas, se possível sem que se tenha formalizado qualquer aliança, para evitar a desagradável intervenção de advogados, juízes, testemunhas e familiares potencialmente interessados ?

Se assim deve ser, como se faz para apagar de forma definitiva as marcas e rastros que as pessoas deixam em nossas vidas ? O que é mais sensato fazer, de acordo com essa nova concepção de "inteligência emocional" ?

A resposta dai advinda terá, seguramente, consequências as mais diversas, até mesmo sob o juízo dos magistrados ao atribuir ou não a guarda e adoção a parceiros solteiros, porém abonados, casais tridimencionais (3D, há sempre lugar para mais um), e aos homossexuais masculinos, se adeptos de relacionamentos abertos tipo porta giratória ou fast food, apenas para citar algumas das categorias aceitas e certificadas pelas tais pessoas emocionalmente inteligente que me vem a memória. Podem acrescentar outras, se quiserem, como a dos casais tipo "loja de conveniência".

Nesse momento, queria mesmo era que estivéssemos num video blog, porque meu cachorro, o reincidente Woody, se virou no sofá e mudou, com o corpinho o canal de TV. Sex and the City 2 deu lugar a uma palestra na TV Comunitária em que o entrevistado fala sobre ego. Mas sobre isso já escrevi, de forma séria e pesada, por isso, mudo meu canal de volta para o filme, que passa na HBO, me parece mais apropriado na ocasião. Não me venha senhor palestrante falar de São Francisco de Assis, que tanto amo, enquanto Samantha e suas amigas aprontam em Abu Dhabi.

Retomando o tirocínio, acho que a resposta está no início de todas as relações, dos padrões que se estabeleceram sileciosamente ao longo dos dias, desde o lado preferido da cama, ao respeito pelas idiossincrasias do outro, passando pelo tempo dedicado ao outro ou ao espelho, gosto por baladas etc.

Se muito se cedeu de um lado, em proveito do outro, mais confusão e desencontro haverá na "hora de dizer tchau", de parte a parte, a tendência será a de usar uma espécie de dosimetria de quem perdeu mais em favor de quem. Vi com tristeza amigos(as) que tiveram longas disputas com seus cônjuges por causa disso, para sofrimento dos filhos pais e da galera em geral, que teve que aguentar as lamúrias, via de regra em mesa de bar.

Melhor mesmo é delimitar espaços desde o começo, antes que seja tarde demais. Antes que você ou o outro(a) comece a se sentir "lesado(a)" com a perda da segurança da relação.

Outro requisito a que as coisas terminem sem conflitos, e ai já digo que sou desfavorável aos barracos:

Se você é dos que pensam que as relações estão fadadas ao término, faça um favor ao mundo, ou não comece uma, ou termine de forma civilizada, e por civilizada digo, vá matando a coitada aos poucos, como faziam os Médicis.

Se aprofundem na arcana arte do envenenamento, leiam os tratados, baixem nos seus IPAds desde a ITunes Store, comprem em sebos, existem livros antigos e tratados preciosos sobre o tema (mas folheiem de luvas, nunca se sabe quem andou manipulando o opúsculo). Pontue-se que aqui não estou fazendo apologia ao crime, como antes não demonstrava qualquer sentimento homofóbico. Falo em (auto) envenenamento emocional, uma arte sofisticadíssima, tanto quanto a da dissimulação sincera.

Encontrei num sítio que "os venenos sempre foram chamados de “arma covarde” por serem administrados, geralmente, de forma furtiva, aos poucos, e por um determinado período de tempo. Geralmente proporciona à vítima um sofrimento prolongado. Tem associado à ação do envenenamento um particular sentimento de ódio, o que torna o “envenenador” um indivíduo “sinistro”. O envenenador é, assim, caracterizado pela sua falta de compaixão, e mata suas vítimas sem o calor de um momento de stress – como numa discussão, ou numa briga" (em http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mI.hist.htm, consultado na data da redação desse post, que espero seja a mesma da publicação, já que estou com um questionário super antipático da pós para responder até dia 25).

Discordo do artigo, o verdadeiro envenenador é aquele que, como Catarina de Médici, se apresenta notório, põe plaquinha e tudo mais, dá suporte a uma espécie de ofendículo (os juristas sabem a definição, é como aquele sinal "cerca eletrificada", "cão bravo", "don't transpass", "use of deadly force authorized").

Penso mesmo que o tal (auto) envenenador emocional deveria avisar antes do primeiro beijo: "olha eu não concordo com essa coisa de relação, tenho cá minhas ressalvas, portanto se está pensando que o que haverá entre nós é uma relação, namoro, casamento ou coisa que o valha, melhor consultar logo sua disponibilidade para desapontamentos ao longo dos próximos meses ou anos, faça um bom plano de saúde, uma poupança para o analista ou adote uma dessas religiões que pegam o desapego", ou melhor ainda, convença a criatura a ler Paulo Coelho ou frequentar a seção de autoajuda da livraria de sua preferência, ou as sessões de descarrego de alguma igreja ou centro espírita.

Mas como propus uma questão e não uma resposta, qual é mesmo sua opinião ?

Ia já me esquecendo, um "ex-conhecido" meu apontou diversos erros ou impropiedades gramaticais, estilísticas etc., em meus textos. Outra conhecida me saio com essa, "os que vivem apontando erros de português é porque detestam escrever", com essa peço desculpas pelos erros de hoje e do passado.

Fiquem com a máxima: "de onde menos se espera, é dai que não sai nada mesmo".

terça-feira, 17 de maio de 2011

CURTINHA


Amigo, um passarinho me contou que você é diferente, que anda por ai cercado de espelhos, que não enxerga além deles, e que por isso, por muitos, é considerado cego, não imaginas quanto, não imaginavas o quanto. Meu album inteiro se encheu de figuras que se repetem como ecos sem boca, será que alguém quer trocar, dessas já tenho demais.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

DE SATÃ OU DA INGRATIDÃO

Podem vaticinar os puristas que desingratidão é neologismo, que a referência castiça deveria ser ingratidão. Penso que não.

Ingrato é aquele que nunca escondeu sua condição. É incapaz de aferir e contabilizar o que lhe foi feito de bom pela vida, pelo semelhante, se, crente, por Deus, seja qual for o conceito que tenha do transcendente.

São seres humanos que abraçaram com tal sinceridade sua condição, que as suas atitudes raramente nos causam surpresa ou repulsa. Não raro temos essa gente em nosso ciclo de amizades e suas demonstrações relativas à empatia com sentimentos nobres não nos parecem bizarras.

O "desingrato" é aquele que, dissimulado sua condição moral inferior, consegue entrar e sair dos ciclos sociais que frequenta na condição de quase vírus, mantendo seus "hospedeiros" vivos em condição precária, apenas porque sabe que deles pode "depender" ou extrair elementos de "sobrevivencia", mantendo-os assim enquanto lhes são "úteis". São práticos, frios, bons de matemática, aprenderam a andar no fim da navalha e disfarçar sua fragilidade.

O "desingrato" carece do seu defeito, porque é ele mesmo que os faz sobreviver.

Sua armadura é a mentira e a manipulação, a mesma usada por Satã.

Quando começei a escrever este post, Osama Bin Laden ainda vivia, com seu dedo em riste apontado desde o oriente e clamando contra o Grande "Satã", representado pelos cruzados (cristãos) e sionistas (judeus).

Mentira, nem todos os cristãos foram cruzados, quiça fossem, não teriamos uma igreja católica tão ambígua. E nem todos os judeus sionistas, uma pena.

Valia-se ele da miséria e desesperança de milhares, para lançar seus escrementos como petardos, fornecendo logística e dinheiro para que vidas fossem destruídas em nome de seu deus. Seu profeta, vivo fosse, e lhe o excomungaria. Mas para alegria de "oil sheiks" sauditas, um dos seus milionários resolveu se sacrificar pelo bem estar da Halliburton do Cheney. Agora acabou a brincadeira, já perdemos 3 trilhões de dólares e o Bin já tava mesmo fazendo hora extra. Trocamos Osama por Obama, fair play.

A desingratidão é uma forma de mentira, uma mentira internalizada, na qual o indivíduo se acredita credor da boa vontade da sociedade, de seus familiares, amigos e conhecidos. São aqueles que preferem o seu peixe a "Belle Menière" a aprender a pescar.

Alguns dos chamados movimentos sociais abrigam tal espécie de gente.

Ainda ontem vi gente defendendo os índios, e me recordeo de duas ocasiões em que tive contato com os assim chamados nativos. Uma em Porto Seguro, na qual tive que dar dinheiro à mãe de dois silvícolas para tirar uma fotografia com a mão em seus cabelos. O gato subiu no telhado, com uma vontade enorme de gastar sua última vida.

Mais recentemente, durante minha passagem, curta, pela NOVACAP, não equivocadamente conhecida como Brasília ( que muito nos reporta a uma Ilha cercada de Brasil por todos os lados).

Um grupo de índios acampava na Esplanada, entre o prédio do Ministério da Justiça, tentativa de Oscar em fazer-nos recordar que lá fora, no Brasil real, temos cachoeiras; o "Palácio" do Itamaraty", que desonra o termo "palais" de múltiplas formas e o prédio do Congresso, um falo ladeado por duas meias "bolas", talvez a indicar que se somadas não produziriam um só homem de bem.

A turba ostentava flamulas escritas em má caligrafia, mas excelente inglês, penso que vi tímida e abaixo dessa uma outra em francês, com certeza para homenagear os mais de quinhentos postos no exterior criados pela política externa do ex-presidente, que, por inspiração de seu chanceler de triste memória, cismou em inaugurar relações e prédios consulares em países da Africa, em Estados que duram no máximo seis meses.

A cena era digna das narrativas do homofóbico, comunista e ateu Graciliano Ramos ou do "galhado" mas gentil e talentoso Euclides da Cunha, respectivamente "Grandes Sertões Veredas" e o jornalístico e longuíssimo "Os Sertões".

Tendas, fogaréus, pajelanças, o cheiro enauseante de falta de banho, e a poeira vermelha da Brasília do estio. Mentiras.

Cenário armado por pura falta de fazer, ou não, como diria Caetano, para tentar engabelar a classe política, já que os carros de luxo que transitam pelos dois eixos, se preocupavam mais em não atropelar nenhum manifestante bebado ou criança desgarrada do que com a tal causa indígena.

Um discenso no inferno, já imaginaram? Que diabos poderia ser a solução...

Afinal, nossos filhos e nós mesmos somos tão nativos quanto eles, o que não nos dá o direito de ocupar espaço público, ferir a golpes de facão nossos desafetos ou roubar e negociar madeira e biodiversidade.

Lá haviam índios negros, no máximo cafuzos, representantes de duas minorias portanto, da minoria esmagadora de negros, que se deixam dominar porque querem, já que são em número maior, fatando-lhes só organização e nativos.

Sabe-se, desde sempre, que nossos nativos eram migradores, viviam em um sítio até esgotar seus recursos naturais e depois mudavam de praça, às vezes arrumando arruaças que demoravam anos para serem solucionadas com outros grupos. Uns até ajudaram invasores, e não em troca de miçangas e espelhos. Desconheciam fronteiras, reservas etc.

Falta verdade no mundo, assim como fé no coração dos homens.

Amor, virou objeto de ADI/ADPF/ADIN, em voto quase lascívo de ministro da mais alta corte, que sabe muito bem que a tal união homoafetiva virou uma Empresa; depois do ministro o dilúvio, voltamos ao tempo em que os casamentos tinham como alvo os bens, bens afortunados.

Se existia algo de romantico nas relações homossexuais, isso ficou no passado. Agora é só escolher o estatuto societário e forma, não personificada (para enrrustidos), em contas de participação para os "negócios curtos" (seu juiz o negócio dele era "curto" mas funcionava - desculpem senhoras, não pude perder a piada, já vislumbro magistrados corarem em audiencias Brasil a fora), ou personificadas, sendo que a mais interessante deverá ser com certeza aquelas em nome coletivo, formadas em raves.

Mentira.

Será que algum dia terão coragem de beatificar o Charlie Sheen ? Pelo menos o homem não mente...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

PARA QUE SE ENTENDA QUE O AMOR E OS AMANTES TEM SEU TEMPO, QUE ESSE TEMPO NÃO PERTENCE À PAIXÃO, PARA QUE O AMOR SEJA ETERNO ENQUANTO DURE.

Após um inverno criativo que desafiou estações e cidades pelas quais passei, me ocorreu, de uma canção e de um documentário, tocar esse tema desgastado, o amor.

Não tanto pelo que sentimos ou deixamos de sentir pelas pessoas mas pela perda de seu apelo semântico, depois de cantado e afogado em pagodes, sambas enredos e, obviamente em filmes, peças de teatro e desgraçadamente em novelas.

A imagem ao lado é a de duas pessoas, encontradas numa escavação, seus corpos entrelaçados, e de pronto concluiu-se que eram amantes. Conclusão essa sem qualquer fundamento senão que nosso desejo de eternizar esse sentimento, até nos restos mortais de quem nunca chegamos a conhecer.

A descoberta feita na Itália e datada de 5.000 a 6.000 anos, logo ganhou a alcunha de "O Abraço Eterno", e pronto é um casal e isso era amor.

É certo, ao que parece que são dois adultos, do sexo masculino e feminino. Que parecem ter idade aproximada, mas será que eram mesmo amantes.

O hábito, recentemente retomado, de beijar e abraçar amigos e amigas, de demonstrações de afeto entre aparentados, parece nos fazer duvidar dessa interpretação apressada do achado.

A pressa, inimiga do amor, juntou essas duas pessoas com seu abraço eternizado no tempo.

A mesma pressa que nos faz confundir, antipatia com ódio, transforma a menor incompatibilidade em preconceito, reduz o amor à paixão, nesse último caso com consequências nefastas.

Numa comparação pífia, diria que os consumidores de amores apressados são como os bebedores de cerveja, e os de amores consolidados como os apreciadores de um bom vinho ou destilado.

Já observaram com que pressa bebem os amantes da "loura" entornam em goles fartos suas tulipas de chopp ou copos e latinhas de cerveja, tudo para que ela não esfrie e perca o "sabor" ? E como fazem acompanhar essa bebida com toda sorte de coisas pesadas e indigestas ? Suas mãos trêmulas, o "efeito" entorpecente quase que imediato, as risadas fartas e o indefectível inchaço que ocorre mesmo se a marca é a tal Skol 360º ?

Ao contrário os amantes, verbi gratia, do vinho, se dedicam a conhecê-los em sua intimidade, as sutilezas de seu bouquet, os tons, sua textura e coloração. Isso "dá trabalho" me dirão, não tenho tempo, outros, e ainda, é modismo da classe média em sua eterna gangorra de ascenção e descenso.. Pode ser, mas não invalida a metáfora. Não raro, fazem acompanhar a bebida com aperitivos ou pratos cuidadosamente escolhidos, ao contrário dos primeiros. Queijos, frutas e carnes harmonizadas com carinho e não torresmo.

Assim quem se apaixona com pressa, já que a paixão é fase obrigatória do amor, mas não sobrevive a esse, senão que de forma mais sutil, quase diáfana.

Então melhor é amar aos pouquinhos e todo dia, assim os pais, os irmãos, os amigos, os colegas de trabalho e os estranhos, esses também chamados de "próximos" pelo Mestre.

Amor é engenharia e depois arquitetura. É urbanismo, mas também paisagismo. Nada mais equivocado do que uma casa que não observa os ditames dessas guildas, e as cidades que perderam a identidade, que não abrigam mais frestas, que não possuem espaços privados, nos quais as áreas públicas se tornaram via obrigatória do olhar.

Hoje nos apaixonamos por corpos, e nossa pulsão é por tanatos. Deixamos de apreciar um "bom papo", o tal "interior" (dizem até que quem se interessa pela beleza interior é legista).

Nada contra o belo, mas, às vezes ele pode ser encontrado num pequeno detalhe, impossível de ser divisado se estamos entorpecidos em festas rave ou cegos em ambientes escuros ou esfumaçados. Ai o amor não se encontra, senão que se for daqueles amores que, por razões cósmicas, não poderiam deixar de ocorrer, para lição ou para que se realizassem grandes desígnios.

O processo de desamor é igualmente lento, mas de forma compulsória. São os mal tratos, o desprezo calculado e cotidiano pelo outro, a desatenção, a audição e visão seletiva, a falta de tempo, a repetição desprovida de sentido de palavras e gestos.

Assim matavam os Médicis, que se faziam cercar de envenenadores e perfumistas.

Sim é possível combinar de modo a formar filigranas, os aromas da vida e os da morte.

Os efeitos, por óbvio, não representam progresso para a alma, nem dos algozes, menos ainda de suas vítimas.

Por fim, sem finalizar, com propósito essa desreflexão, proponho a leitura de uma obra pouco difundida no Brasil, ou ironicamente difundida de forma muito açodada, "Elogio de la lentitud", de Carl Honoré, que li em espanhol, durante férias em Buenos Aires, cujas virtudes terapêuticas muitos haverão de admirar, como eu.

Existe uma pequena comunidade de pessoas que "curtiram" a publicação no facebook, icone da comunicação imediata, divido o link: http://www.facebook.com/pages/Elogio-De-La-Lentitud-Carl-Honor%C3%A9/106225192734030.

Desconstruam.